PT

Volumes virtuais (1968–1969/2015) marca um momento decisivo na trajetória de Cildo Meireles, em que o artista, no contexto da ditadura militar brasileira, radicaliza a economia de meios e aprofunda a desconstrução do espaço euclidiano — sistema geométrico baseado em três dimensões ortogonais, onde formas e proporções seguem regras precisas de medida e relação entre pontos e planos. Aproximando-se do minimalismo e da arte conceitual, mas sem abdicar da dimensão sensível, a série propõe volumes que existem apenas virtualmente, dependentes do deslocamento e da percepção do observador para se completarem. A obra apresentada — estrutura de madeira que insinua uma pirâmide triangular sem preenchê-la — transforma o vazio em presença física e simbólica, instaurando um espaço simultaneamente concreto e imaginário.

Em diálogo com projetos como Ocupações (1969), a série mobiliza o que Meireles chama de “contradomínios”, campos derivados que operam por deformações, anamorfoses e transformações espaciais contínuas. Essa investigação formal e perceptiva antecipa questões centrais em sua produção, como a construção simbólica do espaço, a presença do invisível e a crítica a estruturas de poder e circulação, que se tornaram mais explícitas em obras posteriores como Inserções em Circuitos Ideológicos ou Árvore do Esquecimento. Entre precisão geométrica e instabilidade, Volumes virtuais afirma uma poética da geometria que desloca a escultura de objeto autônomo para experiência ativa do pensamento.

EN

Volumes virtuais [Virtual Volumes] (1968–1969/2015) marks a decisive moment in Cildo Meireles’s trajectory, in which the artist, during the period of the Brazilian military dictatorship, radicalized the economy of means and deepened the deconstruction of Euclidean space — a geometric system based on three orthogonal dimensions, where forms and proportions follow precise rules of measurement and the relationships between points and planes. Approaching minimalism and conceptual art, yet without relinquishing a sensory dimension, the series proposes volumes that exist only virtually, dependent on the viewer’s movement and perception to be completed. The work presented — a wooden structure that suggests a triangular pyramid without filling it — transforms emptiness into physical and symbolic presence, establishing a space that is simultaneously concrete and imaginary.

In dialogue with projects such as Ocupações [Occupations] (1969), the series mobilizes what Meireles calls “contradomínios” [“contradomains”], derivative fields that operate through deformations, anamorphoses, and continuous spatial transformations. This formal and perceptual investigation anticipates central questions in his oeuvre, such as the symbolic construction of space, the presence of the invisible, and the critique of structures of power and circulation, which would become more explicit in later works such as Inserções em Circuitos Ideológicos [Insertions into Ideological Circuits] and Árvore do Esquecimento [Tree of Forgetfulness]. Balancing geometric precision and instability, Volumes virtuais asserts a poetics of geometry that shifts sculpture from an autonomous object to an active experience of thought.