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Nos últimos anos de sua carreira, Antonio Dias concentrou sua produção em composições pictóricas de caráter estrutural, explorando as relações entre superfícies, volumes e suportes. Reconhecido desde os anos 1960 por uma obra que transita entre pintura, desenho, objetos, instalações e vídeos, construiu ao longo das décadas um vocabulário próprio, marcado pela atenção à forma e ao uso preciso dos recursos plásticos. A partir de 2010, intensificou o interesse pela construção espacial da pintura e pela aplicação de pigmentos minerais, óxidos de ferro e metais, evidenciando a materialidade e a textura da superfície, assim como os efeitos da ação do tempo sobre a matéria.

Em Sem título (2014), a configuração cruciforme atua como eixo estruturante do espaço pictórico. Michael Asbury observa que “a cruz aparece, ora de maneira explícita, ora por associação, dedução ou extrapolação, como uma figura recorrente ao longo de toda a obra de Antonio Dias, articulando a dicotomia entre a autonomia dos módulos e sua relação com o ambiente externo”. A cruz, nesse contexto, ultrapassa a dimensão religiosa, carregando referências históricas, políticas e pessoais. O uso de ouro e cobre — metais tradicionalmente associados a valor e permanência —, em contraste com o óxido de ferro, reforça o papel da matéria como agente ativo no diálogo com o tempo e o espaço, consolidando a obra como síntese das preocupações formais e conceituais de sua fase final.

EN

In the final years of his career, Antonio Dias focused his production on pictorial compositions of a structural nature, exploring the relationships between surfaces, volumes, and supports. Recognized since the 1960s for a body of work that moves between painting, drawing, objects, installations, and video, he developed over the decades a distinctive vocabulary marked by a keen attention to form and the precise use of plastic resources. From 2010 onward, he intensified his interest in the spatial construction of painting and in the application of mineral pigments, iron oxides, and metals, emphasizing the materiality and texture of the surface, as well as the effects of time’s action on matter.

In Untitled (2014), the cruciform configuration acts as the structuring axis of the pictorial space. Michael Asbury notes that “the cross appears, sometimes explicitly, sometimes by association, deduction or extrapolation, as a recurring figure throughout the work of Antonio Dias, articulating the dichotomy between the autonomy of the modules and their relationship with the external environment.” In this context, the cross surpasses the religious dimension, carrying historical, political, and personal references. The use of gold and copper—metals traditionally associated with value and permanence—in contrast with the iron oxide surface, reinforces the role of matter as an active agent in dialogue with time and space, consolidating the work as a synthesis of the formal and conceptual concerns of his final phase.